História da Arte de Porto Ferreira: Gilberto Chateaubriand e a Fazenda Rio Corrente (1ª Parte)

Divulgado em 26/04/2024 - 09:39 por Renan Arnoni*

História da Arte Histórica pode parecer um termo redundante. Entretanto, nesta frase, refiro-me ao passado ferreirense demonstrado nas artes plásticas, em forma de pinturas, mural de azulejos, esculturas, quadros, desenhos, entre outros, que, de certa forma, constitui o patrimônio histórico material local.

Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo (Paris, 1925 – Porto Ferreira-SP, 2022) foi um dos grandes colecionadores de obras de arte de brasileiros. Gilberto foi diplomata, formado pela primeira turma do Instituto Rio Branco, na década de 40, atuando como diplomata em Paris, de 1956 a 1960. Filho de Assis Chateaubriand, jornalista proprietário do grupo empresarial “Diários Associados”, seu pai foi o fundador do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1947.

Na década de 50, Chateaubriand decidiu iniciar sua coleção de obras de arte, após ganhar um quadro do artista José Pancetti, em 1953, intitulado “A Paisagem de Itapuã”. Gilberto adorava conhecer os artistas e comprar as obras diretamente deles. Muitos destes artistas foram recebidos em sua fazenda Rio Corrente, em Porto Ferreira.

Com o passar das décadas e, após centrar suas aquisições em obras brasileiras, a coleção de Gilberto Chateaubriand adquiriu relevância nacional, pois contempla todos os movimentos artísticos do país, a partir da década de 10 e do Modernismo até a contemporaneidade. De acordo com o site do Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro:

Entre os destaques das obras modernas desta coleção estão trabalhos de Alberto da Veiga Guignard, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Cândido Portinari, Carlos Scliar, Cícero Dias, Djanira, Emiliano Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Ismael Nery, Lasar Segall, Maria Martins, Oswaldo Goeldi, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Vieira da Silva. 

A década de 1950 é representada por obras de Abraham Palatnik, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro, Antonio Bandeira, Fayga Ostrower, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark, Luiz Sacilotto, Manabu Mabe, Maria Leontina, Mary Vieira, Milton Dacosta, Samsor Flexor, Tomie Ohtake, entre outras.

Dos anos 60, a coleção tem trabalhos de Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Artur Barrio, Cláudio Tozzi, Carlos Vergara, Farnese de Andrade, Glauco Rodrigues, Ivald Granato, Rubens Gerchman, Maria do Carmo Secco, Nelson Leirner, Raymundo Colares, Wanda Pimentel, Wesley Duke Lee.

Da década de 1970, destacam-se obras de Alair Gomes, Ana Vitória Mussi, Anna Bella Geiger, Antonio Manuel, Carlos Zilio, Cildo Meireles, Iole de Freitas, Ivens Machado, José Resende, Luiz Alphonsus, Miguel Rio Brancom Milton Machado, Paulo Roberto Leal, Tunga e Waltercio Caldas.

Destaques dos anos 1980 da coleção: Adriana Varejão, Antonio Henrique Amaral, Beatriz Milhazes, Caetano de Almeida, Cristina Canale, Daniel Senise, Fábio Miguez, Jorge Barrão, Leda Catunda, Leonilson, Luiz Zerbini, Nuno Ramos, Sérgio Romagnolo.

Das décadas de 1990 e 2000: Albano Afonso, Arjan Martins, Cabelo, Caetano Dias, Carlito Carvalhosa, Claudia Andujar, Eduardo Berliner, Edgar de Souza, Eduardo Kac, Ernesto Neto, Felipe Barbosa, Fernanda Gomes, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, José Bechara, José Damasceno, Laura Lima, Lúcia Laguna, Marcelo Moscheta, Márcia X, Marcos Chaves, Marepe, Matheus Rocha Pitta, Paulo Climachauska, Paulo Nazareth, Raul Mourão, Rochelle Costi, Rosana Ricalde, Rosângela Rennó, Rivane Neuenschwander, Sandra Cinto, Vik Muniz.

De acordo com o site da “Enciclopédia Itaúcultural”, “em 1993, Gilberto Chateaubriand transfere, em regime de comodato, cerca de 700 obras de seu acervo ao MAM/RJ, que perde parte de sua coleção num incêndio, em 1978. E, após a reconstrução da reserva técnica, o colecionador passa a maior parte de suas peças para a instituição, o que amplia ainda mais a visibilidade e a dimensão pública do conjunto”.

Segundo algumas fontes, o acervo de Gilberto Chateaubriand pode ultrapassar as 8 mil obras de arte. Muitas destas obras estão localizadas em Porto Ferreira na Fazenda Rio Corrente, propriedade adquirida por Chateaubriand na década de 70.

Muitos livros foram publicados sobre o acervo de Gilberto Chateaubriand. Pode ser destacada a trilogia “Coleção Gilberto Chateaubriand (Anos 1920 a 1950; Anos 1960 a 1980; e Anos 90, 00 e Novíssimos)”.

Pode concluir que Porto Ferreira possui, indiretamente e acessível, por intermédio Instituto Gilberto Chateaubriand (fundado pela família em 2023), parte da História da Arte Brasileira, do Modernismo ao Contemporâneo, disponível em seu território, fato este considerado um privilégio dentro do cenário brasileiro.

* Renan Arnoni – Historiador (UNESP – Franca), Professor,  Produtor e Gestor Cultural (SENAC), Analista Comportamental (Especialização) e Empresário.