Economia & Negócios: Atacarejo vive nova onda de expansão e se espalha pelo interior

Divulgado em 14/06/2021 - 15:04 por portoferreirahoje

Crise econômica, desemprego, uma combinação que, naturalmente, leva as famílias a cortar gastos, ou por pura necessidade ou simplesmente por precaução. É neste ambiente que um formato de loja que une duas formas de vendas, o atacado e o varejo, o chamado atacarejo, cresce numa velocidade sequer imaginada no país.

Um indicador deste forte crescimento foi identificado pela Fast Ariam, uma das maiores fabricantes de equipamentos para o setor supermercadista do país. A demanda por checkouts, mobiliário para a disposição de gôndolas e equipamentos para refrigeração aumentou cerca de 40% nos últimos 24 meses. A corrida para a aquisição de todo esse maquinário, de acordo com a Fast Ariam, é, principalmente, para dar conta da abertura de novas lojas no formato de atacarejo.

“Com a queda de renda, é natural que as pessoas procurem canais mais em conta. O que vemos, nos últimos anos, é uma aceleração do crescimento dos atacarejos”, afirma Valdevir Guerra, diretor-geral da Fast Ariam.

Com estruturas mais simples e foco em produtos básicos, o atacarejo (cash & carry, em inglês), consegue vender com preços 15% menores do que os dos supermercados. Para as famílias, em tempo de crise, essa é uma economia que faz toda a diferença no orçamento, assim como abrir mão de lojas mais confortáveis.

“Estamos vivendo a segunda geração dos atacarejos no Brasil, com formatos menores, mais investimento em visual, pisos, decoração e tecnologias que, normalmente, só se viam nos supermercados”, afirma Guerra.

Há pouco menos de dez anos, as redes Makro, que chegou ao país na década de 70, Assaí, do Grupo Casino, e Atacadão, do grupo Carrefour, eram as que atendiam as famílias em busca de produtos básicos e preços baixos. Hoje, de acordo com a ABAAS (Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviço), o setor de atacarejo conta com quase 1.400 lojas tocadas por 151 operadoras. O faturamento anual do setor é da ordem de R$ 130 bilhões. No ano passado, a receita das empresas cresceu 27,6%, em média, na comparação com 2019.

O QUE VEM POR AÍ

Neste momento, dezenas de redes estão em fase de remodelação, construção e inauguração de novas lojas no formato de atacarejo em várias regiões do país. A competição entre elas passou a ser tão acirrada que, muitas delas, preferem guardar segredo sobre a localização de novos endereços até a data da inauguração.

Com 18 lojas (14 atacarejos e 4 supermercados), uma das maiores redes do país, a Tonin, se prepara para abrir mais sete lojas de atacarejo nos próximos meses. O sucesso dos atacarejos, de acordo com Daniel Asp Souza, gerente da Nielsen, tem levado até empresas tradicionais de supermercados a abrir lojas neste formato.

PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS

Os atacarejos nasceram para atender pessoas físicas e jurídicas, os transformadores, como lanchonetes, pequenos comerciantes, restaurantes. Houve época em que a divisão do faturamento das lojas era repartida igualmente entre esses dois grupos de clientes.

De acordo com Roldão, hoje, as famílias representam 70% do movimento de suas lojas e 60% do faturamento. Antes da pandemia, diz, era 50% para cada um.

De acordo com Virgílio Villefort, presidente da Abaas, pesquisa da Nielsen identificou que, no ano passado, 97,3% das compras das famílias eram feitas para abastecimento mensal (43,10%) e para reposição semanal (54,20%).

Quase 900 mil lares, diz ele, já compram somente neste modelo de loja.

“Os clientes que eram mais seletivos, como empresários e médicos, também querem economizar. Ninguém mais tem vergonha de frequentar o nosso negócio. Todos querem comprar mais barato”, afirma Villefort.

A dúvida que ainda fica é que, se a economia voltar a decolar, se os supermercados de vizinhança e os hipermercados não voltarão a ter todos os seus clientes.

Para Asp Souza, da Nielsen, a desigualdade social e o desemprego no Brasil é tão grande que ainda demora para o brasileiro ver a sua renda expandir.

A busca por economia, portanto, diz ele, deve persistir por um bom tempo.

Esta também é opinião de Cattani, da Tonin, especialmente após o brasileiro enfrentar uma pandeia há mais de um ano, que desencadeou mudanças de hábitos de consumo.

‘ROUBA MONTE’

O grupo Roldão com 36 lojas no Estado de São Paulo, uma das mais tradicionais redes de São Paulo, a Roldão, também está crescendo. Inaugura mais quatro lojas até o final do ano,, que conhece há décadas este mercado, faz um alerta para os novos investidores em atacarejos.

De acordo com ele, assim como no ano passado, o primeiro trimestre deste ano foi forte para o setor, mas o segundo trimestre já revela estabilização nas vendas.

“Considero até insano o número de abertura de tantas lojas de atacarejo. Pesquisas revelam que 92% dos municípios de São Paulo já são atendidos por um atacarejo”, diz. Com tantas inaugurações, de acordo com Roldão, os empresários deverão passar no futuro por um processo de “rouba monte”. Isto é, o mercado de atacarejo deve ficar estabilizado, sem registrar grandes crescimentos, e cabe às redes roubarem clientela umas das outras.

“Os supermercadistas acham que é fácil ganhar dinheiro com atacarejo. Mas o fato é que este setor é tão duro quanto o de autosserviço e o de hipermercado, com concorrentes fortes. Em breve, vamos ter a saturação deste mercado”, afirma. Para Benelli, os empresários que estão investindo neste mercado não devem misturar os dois negócios, pois eles possuem culturas diferentes. “No atacarejo, o cliente quer preço menor e, para isso, o custo precisa ser enxuto”, diz.

Se Roldão está ou não certo em sua avaliação o futuro vai dizer, mas o fato é que preço tem feito a diferença neste momento na decisão de compra dos consumidores.

Por dcomercio.com.br