Opinião: O cliente nem sempre tem razão!

Divulgado em 16/01/2020 - 08:00 por Felipe Lamellas *

Uma dos ditados que mais reverbera internamente em restaurantes, lojas, estabelecimentos comerciais e afins, é o de que  “o cliente, certo ou errado, sempre tem razão”. Essa afirmativa é quase consenso na sociedade e foi, ao meu ver, muito pouco questionada ao longo da história. É claro que todos queremos ser bem atendidos, ter os nossos direitos assegurados e ser bem respeitado, isso é o mínimo e o essencial.

Mas e o outro lado? O lado dos atendentes, dos garçons, garçonetes, vendedores, secretárias, empacotadores, caixas de supermercado, seguranças, entre outros. O que acontece quando eles têm a razão? Com esse breve texto procuro, na medida do possível, trazer outros pontos de vista sobre esta questão, realidade de centenas de milhares de trabalhadores desrespeitados e ofendidos diariamente no Brasil.

Basta alguns minutos de conversa com um familiar ou um amigo que trabalha ou tenha trabalhado em um restaurante ou em uma loja, por exemplo, para se ouvir algum relato de uma ofensa que essa pessoa tenha recebido, seja do seu patrão ou gerente, seja de algum cliente ou ainda, de um colega de trabalho. Esses casos são rotineiros e revelam os abusos nas relações de poder existentes entre os funcionários e o empregador, e entre os clientes e os funcionários. Muitas vezes, a arrogância e a violência verbal e, até mesmo, física demarcam os vínculos profissionais dessas categorias.

O mais importante a se destacar, entretanto, é que todos esses abusos, por menores e mais simples que pareçam, são reflexos de uma sociedade que convive com as mais diversas formas de preconceito e discriminação. As grosserias desnecessárias, os comentários provocativos, os gestos ofensivos, são muito mais do que ataques isolados a um ou outro funcionário, são a prova de uma sociedade, em grande parte, racista, misógina e xenofóbica, que ainda não aprendeu a lidar com as diferenças.

O silêncio diante disso tudo vem da necessidade. A submissão parte da ausência de estabilidade. Em muitos casos, jovens recém contratados e até mesmo funcionários experientes não possuem muitas alternativas a não ser suportar essas más condições de trabalho, não porque querem, mas porque precisam. Com milhões de desempregados no país, o medo da demissão é a mais cruel e invisível força regulatória e punitiva que um patrão pode dispor para controlar seus funcionários. A estes, já calados pelo terror, só resta o silêncio e a obediência diante de inúmeros casos de desrespeito. 

Nos últimos anos, para agravar a situação, temos observado alterações constantes nas relações de trabalho, como o crescimento do desemprego, da informalidade e do fim de determinadas garantias constitucionais asseguradas por lei. A essas dificuldades se somam uma série de questões, como o desrespeito, abordado neste texto. O cliente nem sempre tem razão! Ter ou não razão é uma questão de vaidade, de ego, de querer estar certo e por isso ser melhor. O que se deve priorizar não é a razão e sim, o respeito. O cliente deve ter sempre o respeito, da mesma forma que deve sempre respeitar quem lhe atende. Razão é vaidade, respeito é humanidade. 

Por Felipe Lamellas - Graduando em Comunicação Social: Jornalismo na Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho" em Bauru-SP. Professor de História no Cursinho Pré-Vestibular Gratuito Principia e no Cursinho Gratuito Primeiro de Maio.

* Nota: o texto e a imagem publicada como “opinião do autor” não reflete necessariamente o pensamento do portoferreirahoje, sendo de total responsabilidade do autor.