Pagamento de honorários para procuradores gera crise interna entre Prefeitura e Câmara

Divulgado em 09/12/2019 - 12:00 por portoferreirahoje

Os recursos provenientes do pagamento de honorários de execuções judiciais devem ir para os procuradores ou para os cofres públicos municipais? Essa polêmica está gerando uma crise interna entre a Prefeitura de Porto Ferreira e a Câmara Municipal. O assunto promete alguns capítulos antes do recesso do Poder Legislativo.

Para entender essa história vamos aos fatos: o prefeito Rômulo enviou projetos de lei do Refis para a Câmara. Em 2017 isentava-se juros, multas e honorários. O de 2019, o texto-base da proposta do Poder Executivo não isentava de honorários.

O Refis é o mecanismo que se destina a regularizar créditos decorrentes de débitos relativos a tributos e contribuições administrados pela administração municipal.

Após a aprovação do projeto na Câmara e sanção do prefeito, centenas de contribuintes começaram a procurar os vereadores porque estavam recebendo correspondências de execução das dívidas.

Descobriu-se que os procuradores despacharam a execução de mais de 2 mil contribuintes, apesar de haver tramitado na Procuradoria Jurídica o projeto de lei do Refis do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). De acordo com a Lei Orgânica do Município, os honorários vão para o bolso dos procuradores, pois são parte nos processos de execução.

O vereador Professor Sérgio Rodrigo apresentou um requerimento pedindo explicações e providências, a fim de isentar os contribuintes dos honorários.

O vereador Cabo Alexandre Pitbull também se tornou entusiasta de isenção dos honorários e levantou a bandeira da causa. Para ele, se o município está dando isenção dos juros aos devedores de IPTU, também deveria isentar o contribuinte dos honorários advocatícios.

Segundo o vereador, é inadmissível que os procuradores ganhem honorários, já que os gastos para se fazer a ação é todo da Prefeitura. “Entra com ação no horário de serviço utilizando o computador da Prefeitura, papel da Prefeitura, a força da Prefeitura, se precisar viajar é a Prefeitura que paga, se precisar comer é a Prefeitura que paga, se ficar até mais tarde paga também essas horas, então eu não vejo o porquê de se pagar honorários advocatícios para procuradores”, ressaltou Pitbull.

Inicialmente, a maioria dos vereadores propôs fazer a alteração na legislação (Projeto de Emenda à Lei Orgânica Municipal nº 02/2019), mudança. Todos subscreveram o documento, em consenso.

Houve um movimento entre os advogados públicos da Procuradoria que foi o estopim da crise. Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil foram convocados para discutir o assunto com os vereadores que alegaram que é preciso ter uma lei especifica na Lei Orgânica para destinar os recursos para os procuradores.

O vereador Alan João, que é advogado e atualmente é o presidente da Comissão de Justiça e Redação, elaborou um parecer contrário à emenda. Os dois vereadores que são integrantes da comissão fizeram um parecer em separado, considerando serem favoráveis à alteração. O plenário da Câmara derrubou o parecer de Alan João e o projeto foi colocado em votação em primeira discussão, sendo aprovado por nove votos a favor. O vereador Alan absteve-se. O vereador Ismael ausentou-se da votação.

Os procuradores reagiram e protocolaram um documento na sexta-feira,6, pedindo que os vereadores que tenham parente até o terceiro grau na família, cujo membro tenham as dívidas executadas a pedido da Prefeitura, que não votem no referido projeto de emenda à Lei Orgânica, pois entendem que estariam votando em causa própria.

Fontes ligadas ao Poder Legislativo municipal informaram que o presidente da Câmara, vereador Gustavo Braga, e o vereador Alan João são contrários à emenda, ou seja, fariam um lobby nos bastidores para que os vereadores não votem a favor do projeto.

Nos bastidores sabe-se que há uma pressão interna na Casa: o vereador que votar favorável à destinação dos honorários para os cofres municipais pode responder por improbidade administrativa.

Na contagem do plenário, a bancada governista precisaria de mais um voto para derrubar o projeto de emenda à Lei Orgânica, pois seriam necessários dois terços em segunda votação, ou seja, é preciso ter oito votos para garantir a aprovação.

O site Porto Ferreira Hoje apurou que os vereadores Cabo Alexandre Pitbull, Professor Sérgio e Dentinho procuraram o vereador Kiko Mecânico para tentar convencê-lo de que destinar os recursos dos honorários para os cofres municipais. O vereador Ismael da Farmácia lidera o bloco dos indecisos e pode ser o fiel da balança.

Pitbull, Sérgio e Dentinho são enfáticos nessa discussão. “Votar contra à emenda é votar contra a população ferreirense, e a população vai saber quem está do lado dela”, afirmaram.