A origem do Dia da Piracema em Pirassununga

Divulgado em 08/12/2016 - 14:54 por Roberto Bragagnollo

Se Cachoeira de Emas é um dos maiores berçários de peixe de água doce do Estado de São Paulo e um dos mais importantes do país, Pirassununga - “lugar onde o peixe ronca, faz barulho... rumoreja” - é, também, o único município brasileiro a festejar o Dia da Piracema com um feriado municipal. 

Isso ocorre desde 1967, por decisão do prefeito Fausto Victorelli que instituiu, por meio de um decreto, o feriado municipal do Dia da Piracema. 

Em muitos municípios, o dia 8 de dezembro é feriado. Nesse dia, os católicos celebram o Dia de Nossa Senhora Conceição, lembrando a concepção da Virgem Maria sem pecado, a exemplo de Campinas e Piracicaba, apenas para citar algumas cidades da região. 

Em Pirassununga, a origem do Dia da Piracema surgiu há mais de 80 anos em Cachoeira de Emas, a partir de uma manifestação de fé em louvor à Nossa Senhora da Conceição, que os moradores daquele pequeno povoado promoviam.

RODADA DOS PEIXES 

Enquanto na singela capelinha de pau a pique os fieis louvavam a padroeira do lugar, ali, bem ao lado, nas corredeiras do rio Mogi-Guaçu, a subida dos cardumes saltando por entre as pedras, na região da topava, chamava a atenção de todos. 

Cumpridas as obrigações religiosas, não havia quem não se maravilhasse com aquele espetáculo de renovação da vida no rio Mogi-Guaçu. 

Boca a boca a notícia se espalhou. E a cada ano, no dia 8 de dezembro, os devotos de Nossa Senhora da Conceição e muitos curiosos ali passaram a se reunir em número cada vez maior. Se alguns vinham para rezar e agradecer as bençãos recebidas, outros vinham para contemplar a “rodada dos peixes”, como era chamada. 

Havia tantos dourados e curimbatás, que eles podiam ser pegos com as mãos, com sacos de estopa ou com guarda-chuvas abertos, a espera dos saltos que os peixes davam nas proximidades da barragem. 

Com o passar dos anos, aquela mobilização em torno da fé do pequeno povoado deu visibilidade ao espetáculo da vida no rio Mogi-Guaçu e colocou Cachoeira de Emas no roteiro turístico regional, como um dos mais visitados recantos do interior paulista. 

PIRACEMA TEM DIA E É FERIADO SÓ EM PIRASSUNUNGA

No calendário oficial do país não existe o “Dia Estadual da Piracema” ou “Dia Nacional da Piracema”, mesmo porque o fenômeno não ocorre numa data específica. O período de reprodução dos peixes ocorre, segundo os pesquisadores, entre os meses de outubro a março, aproximadamente. 

Ao instituir o feriado do Dia da Piracema em 1967, o Poder Executivo inseriu Cachoeira de Emas no mapa turístico de Estado de São Paulo. Foi o primeiro ato oficial a apontar o potencial turístico de Pirassununga como uma de nossas principais vocações.

Em toda a extensão do rio Mogi-Guaçu, que nasce no Sul de Minas Gerais e desemboca no Rio Pardo, na divisa dos municípios de Pontal, Pitangueiras e Morro Agudo, o espetáculo da subida dos cardumes tem a sua maior vitrine em Cachoeira de Emas, onde o rio tem o seu principal ponto turístico.

Lamentavelmente, a poluição desmedida e a falta de uma fiscalização ostensiva empobrecem cada vez mais a vida no rio, prejudicando, quantitativa e qualitativamente, a essência e a beleza desse espetáculo, onde, por volta do ano de 1625, os índios, quando ali chegaram, e maravilhados com a enorme quantidade de peixes que encontraram, deram ao local o nome de “pira çunun ga”, o “lugar onde o peixe ronca, faz barulho, rumoreja”. 

FESTA DA PIRACEMA 

Ao longo desses anos, de acordo com visão e o interesse de cada governante, a Festa da Piracema vem sendo marcada por inúmeros acontecimentos. 

Nos anos 60, a “Festa das Nações”, que era realizada em frente à Escola “Eloy Chaves”, marcou época. Em diferentes gestões, shows musicais, competições de caiaque, campeonatos de pesca, plantio de árvores, repovoamento de alevinos, entre outras ações, comemoraram o Dia da Piracema. 

Em 2005 foi criada a FENACEMA - Festa Nacional da Piracema. Com recinto fechado e sem a cobrança de ingressos, o evento trouxe um novo conceito de entretenimento ao introduzir o festival gastronômico com ênfase ao peixe, com pratos típicos de diversas regiões brasileiras, parque de diversões, shows com grandes nomes da música brasileira, entre outros atrativos. 

A FENACEMA também incluiu o “Festival Folclórico” e a “Parada da Piracema”, com o desfile das famílias pioneiras que chegaram ao distrito, alunos da EE “Eloy Chaves” e pescadores da Colônia Z-25. 

A Festa Nacional da Piracema também resgatou em sua segunda edição, em 2006, uma tradição que havia sido interrompida, a “Festa à Iemanjá”, hoje denominada de "Louvação à Iemanjá", sob a coordenação espiritual do Templo de Umbanda Caboclo Tupinambá e Vovô João de Angola, de Pirassununga, cuja devoção no sincretismo refere-se a Nossa Senhora Conceição Aparecida, também festejada no dia 8 de dezembro.

TRADIÇÃO DE FÉ E TURISMO

A festa em louvor à Nossa Senhora Imaculada Conceição, padroeira de Cachoeira de Emas, continua sendo um dos mais significativos acontecimentos do distrito. 

Nos anos anteriores, no dia 8 de dezembro, procissões fluviais eram realizadas entre Porto Ferreira e Pirassununga, em parceria com a Associação dos Canoeiros do Vale do Mogi-Guaçu, com sede naquele município. 

A imagem de Nossa Senhora era acolhida festivamente na "prainha", por fiéis e turistas, seguida de procissão e missa campal na capelinha histórica.

Hoje, 8 de dezembro de 2016, a Comunidade Católica de Cachoeira de Emas programou apenas a Missa da Imaculada Conceição, às 19h, na igreja nova.

MESA NATIVA

Nos restaurantes, bares e chalés, os turistas saboreiam uma das mais deliciosas peixadas. O artesanato e uma grande diversidade de produtos estão à disposição dos visitantes no Centro Comercial “Eunice Rosa”. 

Tem também os passeios de barco, onde os visitantes têm a chance de conhecer os ranchos pesqueiros e o pouco do que restou da mata ciliar.

Muito ainda há que ser feito no sentido de dotar Cachoeira de Emas de infraestrutura necessária capaz de acolher, acomodar e entreter, com encantamento e profissionalismo, todos aqueles que nos visitam, seja durante a Festa da Piracema ou em qualquer época do ano. .

Autor do texto: Roberto Bragagnollo, de Pirassununga